24/11/2012
também nós
… também nós temos rios e barcos, areias movediças e árvores de giestas, olhos de ver por dentro e de esquecer, também nós somos gestos, som, pedra, lamento, ais, e rios e cantigas, memória da memória e sexo, cores, cheiros, hálitos, também nós somos vermes nervos sóis e luas vendavais, também nós somos restos tão excrementos, também nós somos outros, outros, outros…
in: raíz e utopia
foto - detalhe de: no man's land / christian boltanski
23/11/2012
from the heart
olá r !
voltei a ver o "of the heart" e tocou-me muito, surpreendentemente até!
é talvez por isso que sinto este gosto pelo revisitar das obras (musicais, cinematográficas, literárias, plásticas...) não tanto quanto eu gostaria porque o tempo não permite "honrar" todas elas mas na medida do possível...
também aqui há um tempo: para a obra se nos desvelar - diria melhor até, para o nosso olhar se desproteger dela, aprender a recebê-la e a amá-la , sem querer soar excessivo
há formas de intensidade que nos podem tocar tão intimamente que de forma inconsciente nos defendemos delas, tornando-nos como que analfabetos ou psiquicamente dormentes ao contacto com elas
outras, ou porque nos encontram desprevenidos ou porque conseguimos, nós próprios, apanhar-nos a tempo de não recuar, deixam-nos imediatamente extasiados
por momentos quase prefiro as primeiras, as que se defrontam com a nossa relutância, como se por outro lado revelassem mais aquilo que em nós não está tão à superfície, acessível ao tal primeiro encontro
enfim, dou-me conta de que tudo o que acabei de escrever, desde o primeiro parágrafo, é igualmente aplicável ao contacto com outro ser humano, é o mesmo mistério e a mesma dança: como neste video
obrigado
nc
20/11/2012
absolute zero
there comes a time when an individual becomes irresistible and his action becomes all-pervasive in its effects. this comes when he reduces himself to zero
gandhi
01/11/2012
pranava
- ó rumor que passa, faz em mim eco. em face muda te recebo, farás aqui a tua morada.
- ó copista, tu que firmas as palavras, escrita que não cessa. lápide da minha boca.
- ó antigo rumor, afirma em mim, e eu serei o teu escriba.
pedro ferreira
(foto: die große stille)
atlas de geografia histórica - f. schrader, 1911
atlas de geografia histórica - f. schrader, 1911
"...ao mesmo tempo que actuam todas estas causas de desequilíbrios, o planeta deteriora-se, empobrece. o homem julga valorizá-lo destruindo a lenta acumulação de riqueza vegetal que a colaboração mil vezes secular da atmosfera e do globo terrestre produziu. a grande floresta do hemisfério norte - este revestimento que protegia o solo, equilibrava os climas, ponderava os ventos e as chuvas - vai rareando de dia para dia perante uma exploração louca, sem poder ser substituída por um valor equivalente. com excessiva frequência, instala-se em seu lugar ou a grande cultura, essa grande cultura que, arrancando o homem da terra, preludia invariavelmente a barbárie. desta vez, julga-se proceder de maneira científica porque se utilizam máquinas, mas não são só as zonas temperadas que estão em perigo: a zona tropical vai ser valorizada por sua vez, este grande laboratório dos climas, esta cintura vegetal, donde se exalavam espirais ritmadas de ondas atmosféricas será explorada respeitando-se o homem e a natureza, tendo-se em conta as relações do solo e da atmosfera, ou ceder-se-á à tentação de violentar a terra, de se atacar com vias rápidas a floresta tropical? nestes casos, é a própria humanidade que será posta em perigo, pelo desequilíbrio da atmosfera e pela introdução da instabilidade nos climas do mundo inteiro.
o quadro é sombrio. possa a realidade não ser ainda mais sombria. uma lei actualmente incontestável estabelece que a duração dos organismos vai no sentido inverso da sua complexidade. se esta complexidade for exagerada à força de artifícios e de conflitos, a sobrevivência é impossível. as leis, diz montesquieu, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas. o exame do mundo actual leva-nos inelutavelmente a pensar que essas relações necessárias não são aquelas a que obedece o nosso mundo, ébrio dos seus novos poderes e ocupado em destruir-se a si próprio
(citado por m. yourcenar - "les yeux ouverts, entretiens avec matthieu galey", trad. mª eduarda correia)
"...ao mesmo tempo que actuam todas estas causas de desequilíbrios, o planeta deteriora-se, empobrece. o homem julga valorizá-lo destruindo a lenta acumulação de riqueza vegetal que a colaboração mil vezes secular da atmosfera e do globo terrestre produziu. a grande floresta do hemisfério norte - este revestimento que protegia o solo, equilibrava os climas, ponderava os ventos e as chuvas - vai rareando de dia para dia perante uma exploração louca, sem poder ser substituída por um valor equivalente. com excessiva frequência, instala-se em seu lugar ou a grande cultura, essa grande cultura que, arrancando o homem da terra, preludia invariavelmente a barbárie. desta vez, julga-se proceder de maneira científica porque se utilizam máquinas, mas não são só as zonas temperadas que estão em perigo: a zona tropical vai ser valorizada por sua vez, este grande laboratório dos climas, esta cintura vegetal, donde se exalavam espirais ritmadas de ondas atmosféricas será explorada respeitando-se o homem e a natureza, tendo-se em conta as relações do solo e da atmosfera, ou ceder-se-á à tentação de violentar a terra, de se atacar com vias rápidas a floresta tropical? nestes casos, é a própria humanidade que será posta em perigo, pelo desequilíbrio da atmosfera e pela introdução da instabilidade nos climas do mundo inteiro.
o quadro é sombrio. possa a realidade não ser ainda mais sombria. uma lei actualmente incontestável estabelece que a duração dos organismos vai no sentido inverso da sua complexidade. se esta complexidade for exagerada à força de artifícios e de conflitos, a sobrevivência é impossível. as leis, diz montesquieu, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas. o exame do mundo actual leva-nos inelutavelmente a pensar que essas relações necessárias não são aquelas a que obedece o nosso mundo, ébrio dos seus novos poderes e ocupado em destruir-se a si próprio
(citado por m. yourcenar - "les yeux ouverts, entretiens avec matthieu galey", trad. mª eduarda correia)
através do teu coração passou um barco
que não pára de seguir, sem ti, o seu caminho
______________________________________
nunca mais
caminharás nos caminhos naturais
nunca mais te poderás sentir
invulnerável, real e denso -
para sempre está perdido
o que mais do que tudo procuraste
a plenitude de cada presença
e será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência
sophia de mello breyner
sentado no caminho aberto
frágil, oco, outro,
em plenitude vazia,
presente à ausência de ti próprio
(a partir de) hogen (daido) yamahata / eric baret
(foto: tiago cunha)
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