agora contemos até doze
e fiquemos quietos
por uma vez sobre a terra
não falemos em nenhum idioma
detenhamo-nos por um segundo
não movamos tanto os braços
num minuto fragrante,
sem pressa, sem motores,
todos juntos
numa estranheza íntima
instantânea
os pescadores no mar frio
não fariam mal às baleias
e o trabalhador do sal
olharia para as suas mãos quebradas
os que preparam guerras verdes,
guerras de gás, guerras de fogo,
vitórias sem sobreviventes
vestiriam roupa limpa
e andariam com os seus irmãos
pela sombra, sem fazer nada
sem confundir o que sugiro
com a completa inactividade
a vida é o que é e continua,
sem confundir o que sugiro
com a completa inactividade
a vida é o que é e continua,
não busco a morte
visto que não nos encontramos
neste esforço constante
por manter a nossa vida em movimento
talvez por uma vez sem fazer nada
talvez num grande silêncio
possamos interromper esta tristeza
este nunca nos entendermos
e ameaçarmo-nos com a morte
talvez a terra nos ensine:
como quando tudo parece morto no inverno
e logo renasce
agora contarei até doze:
fiquem calados e eu parto
pablo nerudavisto que não nos encontramos
neste esforço constante
por manter a nossa vida em movimento
talvez por uma vez sem fazer nada
talvez num grande silêncio
possamos interromper esta tristeza
este nunca nos entendermos
e ameaçarmo-nos com a morte
talvez a terra nos ensine:
como quando tudo parece morto no inverno
e logo renasce
agora contarei até doze:
fiquem calados e eu parto
(trad e adapt / nc)
keeping quiet
____________________________________________
pido silencio
agora deixem-me tranquilo
agora habituem-se a mim
vou fechar os olhos
e quero apenas cinco coisas
o amor sem fim,
o outono e as suas folhas,
o inverno grave,
carícia do fogo no frio silvestre,
o verão, redondo de melancia
e os teus olhos - que tu sejas a primavera!
não quero ser sem que me olhes
amigos, é só isto que quero
é quase nada e quase tudo
e agora, sim, peço que se vão
vivi tanto que um dia terão,
forçosamente, que esquecer-me
apagar-me, porque o meu coração
foi interminável
mas porque peço silêncio
não pensem que vou morrer
pelo contrário:
acontece que vou viver-me
acontece que sou e prossigo
passa-se apenas que dentro de mim
crescerão cereais - começando pelos grãos,
que rompem a terra para verem a luz
mas a mãe terra é escura
e dentro de mim sou escuro
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa as suas estrelas
enquanto segue sozinha pelo campo
acontece que vivi tanto
que quero viver outro tanto
nunca me senti tão sonoro
nunca tive tantos beijos
agora, como sempre, é cedo
a luz voa com as suas abelhas
deixem-me só com o dia
peço permissão para nascer
pablo neruda
(trad e adapt / nc)
now we will count to twelve
and we will all keep still
for once on the face of the earth, let's not speak any language,
let's stop for a second
and move not our arms so much
it would be an exotic moment
without rush, without engines;
we would all be together
in a sudden strangeness
fishermen in the cold sea
would not harm whales
and the man gathering salt
would not look at his hurt hands
those who prepare green wars
wars with gas, wars with fire,
victories with no survivors,
would put on clean clothes
and walk about with their brothers
in the shade, doing nothing
what i want should not be confused
with total inactivity
life is what it is about...
if we were not so single-minded
about keeping our lives moving
and for once could do nothing
perhaps a huge silence
might interrupt this sadness
of never understanding ourselves
and of threatening ourselves with death
perhaps the earth can teach us
as when everything seems to be dead in winter
and later proves to be alive
now i'll count up to twelve
and you keep quiet and i will go
pablo neruda
(in "crazy wisdom" - by wes scoop nisker)
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pido silencio
agora deixem-me tranquilo
agora habituem-se a mim
vou fechar os olhos
e quero apenas cinco coisas
o amor sem fim,
o outono e as suas folhas,
o inverno grave,
carícia do fogo no frio silvestre,
o verão, redondo de melancia
e os teus olhos - que tu sejas a primavera!
não quero ser sem que me olhes
amigos, é só isto que quero
é quase nada e quase tudo
e agora, sim, peço que se vão
vivi tanto que um dia terão,
forçosamente, que esquecer-me
apagar-me, porque o meu coração
foi interminável
mas porque peço silêncio
não pensem que vou morrer
pelo contrário:
acontece que vou viver-me
acontece que sou e prossigo
passa-se apenas que dentro de mim
crescerão cereais - começando pelos grãos,
que rompem a terra para verem a luz
mas a mãe terra é escura
e dentro de mim sou escuro
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa as suas estrelas
enquanto segue sozinha pelo campo
acontece que vivi tanto
que quero viver outro tanto
nunca me senti tão sonoro
nunca tive tantos beijos
agora, como sempre, é cedo
a luz voa com as suas abelhas
deixem-me só com o dia
peço permissão para nascer
pablo neruda
(trad e adapt / nc)